quarta-feira, agosto 23, 2006

Dormir - e acordar - de consciência descansada


"Há alguns anos atrás, nas Para-olimpíadas de Seattle, nove atletas, todos mentalmente ou fisicamente debilitados estavam prontos na linha de partida dos 100 metros. Ao disparar da pistola, iniciaram a corrida, não todos correndo, mas todos com vontade de chegar e vencer. Enquanto corriam, um dos concorrentes caiu no asfalto, deu umas cambalhotas e começou a chorar. Os outros ouviram-no chorar. Abrandaram e olharam para trás. Pararam e voltaram atrás... Todos. Uma menina com a síndroma de Down sentou-se perto dele e começou a beijá-lo e a dizer-lhe: Agora estás melhor? Então abraçaram-se todos e os nove caminharam em direcção à meta".
Não sei porquê, ontem à noite lembrei-me desta história. Afinal, nem tudo é cinzento neste mundo onde ainda há pessoas capazes de dar aos outros mais do que pedem para si. Ingénuos? Talvez sim. Ou talvez apenas pessoas que valorizaram o estar de bem com a sua consciência. Quantos poderão pensar assim?
Aquele momento só pode constituir uma lição para todos nós. Não por se tratar de jovens marcados pela deficiência, que sabem ser solidários... mas por mostrar que não pode ser errado agir com o coração. Se assim for, então pouca coisa terá sentido nesta vida. E desenganem-se os ditos "racionais" que consideram que quem pensa com o coração não sabe ver quando está a ser enganado ou "passado para trás". Quem pensa com o coração não é burro.
Voltando ao texto inicial, se for bem lido ele pode dar-nos uma outra lição importante. Afinal, uma equipa unida pode ultrapassar (quase) todos os obstáculos... sejam eles de que natureza forem. E equipa unida, quer dizer, para mim, sem elementos que jogam com paus de dois bicos e que conseguem, nas situações mais delicadas, dividir... para (eles) reinar.
É claro que, também naquele grupo de jovens, como em todos os outros, um teria mais capacidade ou mais força de vontade para chegar ao fim em primeiro lugar. Mas a vitória, à custa da "desgraça" do outro não iria ter o mesmo valor. E não pode ter, digam o que disserem.
Nos tempos que correm, este é um gesto que parece impensável. Porquê? Porque os idosos morrem sozinhos porque as relações de boa vizinhança há muito desapareceram; as crianças são maltratadas e abusadas pelas famílias e os vizinhos não denunciam as situações; os casais matam-se e ninguém abre a boca porque "entre marido e mulher não metas a colher", os colegas traem-se... para irem mais longe. Puro engano. Pertenço àquele grupo (talvez diminuto) que acha que os fins (sejam eles quais forem) não justificam os meios e que a verdade merece, sempre, a última palavra. A realidade que me rodeia tem-me dado razão... mais tarde ou mais cedo.
ARCA - Associação de Recreio Cultura e Assitência de Aguada de Baixo

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